segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

APOMM promove feira semanal de produtos orgânicos em São Lourenço


A “Feira Permacultural” acontece todo sábado, na praça Dr. Humberto Sanches, com uma média de sete expositores de diferentes cidades da região, entre eles  Virgínia, Carmo de Minas, São Lourenço, Soledade e Pedralva e conta com a presença de um público fiel e constante.
Além dos expositores com produtos orgânicos, verduras, legumes, frutas, pães, mel, há também música ao vivo para animar a manhã. A feira tornou-se referência de local, com produtos de qualidade e também num ótimo lugar para confraternização.
Para Helio Brasil, criador da feira e um dos fundadores da Associação Permacultural Montanhas da Mantiqueira (APOMM), um dos objetivos da feira petende é promover a saúde: a alimentação sem "veneno” e os diferentes tipos de alimentação, vegetariana, vegana e macrobiótica. Helio garante ainda que os médicos formam grande parte do público, pois são conhecedores da necessidade da qualidade do alimento e do perigo da transgenia e agrotóxicos.
Paulo Siqueira, atual presidente da APOMM, é produtor orgânico desde 1997, em Pedralva, e segundo ele há cerca de 2 mil produtores em seu município, dos quais apenas 3 são orgânicos.
“Os outros produtores rurais nos veem como ambientalistas e defendem o agrotóxico. Mudam o nome do veneno, colocam em diminutivo, chamam de remédio. Há uma inversão de valores. É cultural mesmo”, esclarece. Para ele, a maior dificuldade sentida é a produção propriamente dita e a comercialização dos produtos. Mas garante não ser impossível.
Helio Brasil ressalta também a inexperiência em grupo e o individualismo como obstáculos, assim como o preço dos alimentos, que geralmente assusta o consumidor.
“Para dar um exemplo, um pé de tomate no convencional, usando adubo, venenos, hormônios, chega a produzir 12 a 14 kg por pé. No meu, quando produzo 1 kg por pé eu solto foguetes de alegria”, esclarece o presidente da APOMM. “Eles não colocam o preço na qualidade de vida”, enfatiza Helio.
Políticas públicas vêm sendo realizadas para tentar inverter esse quadro na alimentação das escolas. A Lei nº 11.947, de 2009, determina que no mínimo 30% do valor repassado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) devem ser utilizados na compra de gêneros alimentícios provenientes da agricultura familiar, dando prioridade aos produtos orgânicos.
Apesar das políticas favoráveis, há ainda entraves sociais e culturais, onde o próprio gestor que realiza o pedido para a compra dos alimentos não reconhece a importância de uma alimentação orgânica nem os perigos dos transgênicos e agrotóxicos. “É muito conveniente para as pessoas acharem que estão comendo saudável, só porque estão comendo verdura”, explica Paulo. Há todo um trabalho de conscientização a ser feito, de mudança de valores e nas práticas diárias. “Eu acho que temos que fazer a nossa parte: mostrar que a agricultura orgânica é possível, que ela dá lucro, que ela preserva solo e que ela te dá qualidade de vida”, afirma o produtor.
OPAC Sul de Minas
Através da união dos esforços e do trabalho de grupo, os produtores orgânicos da região conseguiram criar o OPAC Sul de Minas, o primeiro de Minas Gerais. O OPAC é o Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade, que corresponde às certificadoras no Sistema de Certificação por Auditoria. É através do OPAC que é avaliado, verificado e atestado se os produtos atendem às exigências do regulamento da produção orgânica, o que proporciona autonomia aos produtores. Os grupos de agricultores se reúnem, e por meio do controle social e de responsabilidade solidária, um garante a qualidade orgânica do outro perante a sociedade.
Sobre a APOMM
A Associação Permacultural Montanhas da Mantiqueira (APOMM) foi criada em 2005 com o objetivo de estabelecer a integração socioeconômica solidária e de trabalhar para o desenvolvimento e prática da agricultura orgânica.
Além da feira semanal, a APOMM está realizando o projeto de alfabetização ecológica, como uma alternativa para a educação e para a problemática do êxodo rural. Para o presidente da APOMM, a questão do êxodo rural se resolverá quando houver a valorização do homem do campo, mudando a visão estereotipada de que ele é um “coitado”, quando na verdade sem ele não há alimento. “A produção de alimento é a coisa mais essencial do ser humano, juntamente com a água, e que estão na mão do produtor rural. Se não conseguirmos fazer com que essas crianças enxerguem a importância disso nós teremos sérios problemas de abastecimento daqui alguns anos. Nossos netos e bisnetos terão que comer comida de laboratório, ração, pílulas”, esclarece Paulo.
Outro projeto da entidade é a campanha de conscientização sobre o significado de transgenia e as suas consequências. Em parceria com a Associação Brasileira de Biodinâmica (ABD), a APOMM irá realizar em 2016 o 5º Encontro Nacional de Sementes Livres, em Pedralva. A ABD está também orientando os produtores orgânicos para a criação de um banco de sementes.
O que são os transgênicos?
Os transgênicos são organismos vivos modificados em laboratório, com a introdução de genes novos no código genético de uma espécie, também chamados de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados). A transgenia pode causar sérios problemas na biodiversidade do planeta, como a perda do patrimônio genético das plantas e sementes e o aumento no uso de agrotóxicos.
Além disso, as consequências na saúde do consumidor a longo prazo são imprevisíveis, devido à ausência de conhecimento e à complexidade referente à genética.
Outro ponto de questionamento no uso de OGMs é que os agricultores ficam dependentes das empresas que modificam geneticamente as sementes, uma vez que modificados os frutos não geram sementes férteis, obrigando o produtor a comprar novas sementes. Há um monopólio de empresas que vendem os produtos desta indústria, as sementes e os agro-tóxicos, entre elas a Monsanto, Pioneer, Syngenta, gerando uma crescente perda da soberania alimentar.
No Brasil, o uso de transgênicos foi aprovado em 2003 e desde então há cerca de 40 milhões de hectares cultivados, com um crescimento muito acelerado.
No início de 2014, um relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Biotecnologia Agrícola (Isaaa, na sigla em inglês) divulgou que o Brasil, pelo quinto ano consecutivo, perdeu apenas para os Estados Unidos em área de cultivo de transgênicos, com cerca de 23% do total mundial. Ainda segundo o relatório, o Brasil é o que mais cresce em área para produção com transgênicos, com um aumento de 10% em 2013 - equivale a 3,7 milhões de hectares de áreas cultivadas com soja, milho e algodão transgênicos - representando proporcionalmente mais do que o triplo da média mundial de aumento (que foi de 3%).
Outros países da América do Sul são grandes produtores de transgênicos, entre eles: a Argentina, que foi o primeiro país latino-americano a adotar a tecnologia dos transgênicos, responsável por 15% dos cultivos do mundo, com 24,4 hectares de áreas cultivadas; o Paraguai tem 3,6 milhões de hectares com cultivo de soja transgênica, que, com a liberação dos OGMs, se tornou na base da economia.
Em 2011 foi aprovada uma lei no Peru que proíbe o uso de transgênicos no país por um período de 10 anos. Já na Costa Rica e no México há lutas locais contra os transgênicos, conseguindo alguns avanços na proibição de cultivo de transgênico em algumas regiões do México.
Na Europa há uma forte resistência à liberação dos OGMs e desde 1996 as organizações da sociedade civil européia realizam campanhas de alerta sobre o uso de transgênicos, com informações simples e acessíveis aos cidadãos, ações jurídicas, ações de alerta à imprensa, guia para consumidores, entre outros.

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